CARTA ABERTA AOS FIELLOS
- André Fiello
- 31 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de jun.
De mim para vocês. Leiam com o coração aberto.

Oi, meus Fiellos.
Sinceramente? Nem sei como começar essa carta sem me emocionar. Talvez não precise começar de forma perfeita. Talvez ela precise apenas ser verdadeira. Porque essa carta é pra vocês: os que chegaram agora, os que me acompanham desde o início, os que me viram nascer artisticamente, tropeçar, sumir, voltar... e ainda assim permanecer. Sim, permanecer.
Minha carreira começou de um jeito simples. Quase inocente. Foi um empurrãozinho, um incentivo aqui e ali... amigos próximos que acreditavam em mim antes mesmo de eu acreditar. Professoras da escola que me davam palavras de apoio que até hoje ecoam na minha mente. E, claro, minha família — que, apesar de tudo, sempre acreditou com fé inabalável no meu potencial. Eles me enxergaram inteiro quando eu ainda estava em pedaços. Foram eles que me empurraram pra frente, mesmo quando eu só queria parar. E assim eu fui indo... passo a passo, nota por nota, verso por verso.
Durante muito tempo, minha trajetória musical esteve conectada ao universo gospel, mais especificamente ao meio adventista. Foram anos importantes. Anos de aprendizado, entrega, serviço, conexões. Conheci pessoas incríveis, vivi momentos únicos, cantei em lugares que nem imaginava alcançar. Aprendi sobre fé, sobre responsabilidade, sobre me doar por inteiro. E mesmo com tudo isso, senti que aquele ciclo precisava ser encerrado. Com respeito, com gratidão, com maturidade. Eu saí em paz. E sigo em paz. Carrego no peito as coisas boas, as pessoas do bem e as lembranças que aquecem. Sem ressentimentos, sem mágoas. Apenas amor. E gratidão.
Agora... sobre o ANAGRAMA. Ah, o Anagrama...
Vocês sabem o quanto esse projeto foi especial pra mim. Ele não foi apenas o meu primeiro EP. Foi o meu grito. Minha libertação. Meu código quebrado. E sim, havia uma promessa: uma segunda parte. O volume 2. Onde eu contaria, através de músicas, as letras do meu sobrenome: F-I-E-L-L-O. Eu sonhei com esse projeto por muito tempo. Com os arranjos, com os temas, com a entrega. Mas, infelizmente, nem tudo acontece como a gente sonha. Algumas coisas se desmancham antes mesmo de tomar forma. E eu não estou aqui pra reviver feridas. Não quero tocar nas dores que já curei. Mas quero que vocês saibam: eu senti. Eu sofri. Eu perdi. Fui frustrado, enganado, barrado. Vi um projeto que era o "da minha vida" ser engavetado diante dos meus olhos.
Muitas coisas aconteceram nos bastidores. Coisas que me esgotaram, me adoeceram, me fizeram desacreditar. E diante de tudo isso, eu escolhi silenciar. Não por fraqueza, mas por sobrevivência. Arquivei o ANAGRAMA 2. Guardei. Me recolhi. E então... algo dentro de mim começou a pulsar de novo.
E foi aí que nasceu CARTAS.
Uma nova era. Um novo ciclo. Um novo eu. Não como fuga, mas como ressignificação. CARTAS é a cura que eu precisava escrever. São pensamentos frustrados transformados em poesia. São dores reorganizadas em versos. São memórias reescritas com perdão. É um projeto completamente novo: conceito novo, estrutura nova, músicas novas... e um coração renovado.
Eu sei que, por fora, tudo pode ter parecido abandono. Como se eu tivesse desistido. Como se minha carreira tivesse estacionado ou, pior, regredido. Mas o que poucos entenderam é que, nesse tempo em que estive "parado", eu estava me reconstruindo. Me refazendo. Me permitindo viver, respirar e redefinir os rumos da minha vida e da minha arte.
Em 2023 e 2024, eu testei. Testei jeitos, ideias, caminhos. Anunciei coisas que não aconteceram. Fiz aparições sem sentido. Tudo tentando encontrar algo que fizesse sentido dentro de mim. Mas nada encaixava. Porque eu não estava bem. E a gente não consegue criar verdade quando está em colapso. Eu só queria fugir. Driblar minhas inseguranças. Me sabotar antes que o mundo me sabotasse.
Passei por crises intensas. Chorei muito. Sofri com ansiedade, dores no corpo, vazio na alma. Tudo parecia girar rápido demais e eu, cada vez mais, perdia o controle do tempo. Hoje estou perto dos 30. E, apesar de ainda estar jovem, já não tenho mais a energia emocional de um adolescente. Não falo da energia física, porque essa ainda me acompanha e me impulsiona. Mas falo da energia emocional, daquela chama interna que amadureceu. Já não me deslumbro com qualquer novidade. Hoje eu penso, eu filtro, eu analiso. Eu amadureci.
E uma coisa eu sei com clareza: eu não quero parar. Eu não penso em parar. E eu NUNCA vou parar. A minha meta é entregar até a sétima era. Depois, tirar um ano sabático. Um respiro merecido. E depois voltar. Porque eu nasci pra isso. Quero morrer fazendo música, arte e teatralidade. Essa é a vida que eu escolhi viver — e morrer por ela. Mesmo tendo formação acadêmica, pós-graduação, cursos... meu lar é a música. É nela que eu me encontro. É nela que eu sou.
Por fim, quero agradecer aos Fiellos que não soltaram minha mão. Aos que me acompanharam nos meus momentos mais vulneráveis. Que me ouviram quando eu reclamei, quando eu gritei, quando eu chorei. Que ficaram mesmo quando era mais fácil ir embora. Vocês sempre reafirmam que gostam de mim — da minha voz, do meu trabalho, da minha pessoa, do meu coração. Vocês me fazem sentir que represento algo maior. Que sou, de alguma forma, a voz de quem não tem voz. Um grito de coragem. Um sinal de liberdade. Uma centelha de fé.
Obrigado por isso. De verdade. E espero que, como ser humano, eu continue aprendendo com os meus erros, com minhas falhas, e me tornando a cada dia alguém mais alinhado com o que Deus sonhou pra mim. Porque eu sei: os planos Dele são muito maiores do que os meus.
O álbum CARTAS é sobre tudo isso. Sobre mim. Sobre vocês. Sobre a vida. É o meu primeiro álbum completo, extenso, verdadeiro. E hoje eu entendo: o ANAGRAMA não era pra ser esse projeto. Ele foi o começo. O empurrão. O primeiro passo. A fagulha que acendeu algo muito maior.
E é isso. Obrigado por me permitirem ser quem eu sou.
Com amor eterno, André Fiello
Nós te amamos muito! Estamos com você ontem, hoje e pra sempre! ❤️
Sempre aqui com você, amigo. Amo a forma profunda com que você expressa seus sentimentos através das palavras. Texto lindo. Entendi cada coisinha. Minha empatia sempre. ♥️
Você é maravilhoso.